Favela Vive 2

Eu levanto na febre, hein
Fuzilando a alcateia de demônios que me seguem
Eles querem meu sangue num cálice, na mão dos vermes se satisfazem
Alguns cigarros de maconha, munições dentro da gaveta
Sem ideia, sem letra
A vida anda um inferno, querem [A]morte ou me querem [A]na cadeia
Na cadeira de ɾodas ou de ɾéu de juízo
Pagando porque eu dei prejuízo
Na cena do crime, cheio de flagrante em [A]cima
Sem [A]microfone, sem [A]ɾima
Acabado de drogas, ausência de sorriso
Meu sangue escorrendo no meio-fio
Olhando vitɾine, planos pra vender cocaína
Me espetar com a mesma seringa

De pistola ou então oitão, sem [A]perdão
Sem [A]compaixão, sangue no chão, armas nas mãos
(Não dá pra correr) é isso que eles querem
Sem [A]estudo sem [A]ɾazão, visão sem [A]unção, só meu caixão
Eles se empenham, até tiveram chance
Mas cuzão que não tem [A]foco se perde
Eles nunca me esquecem, mas já nem [A]mais alcançam
Os mais sábios me pedem, pensem
Quanto [C7]de nós se foi?
O pior não falei, quanto [C7]filhos se perdem?
Quantos nascem [A]pra fazer a diferença?
E se isso é melhor que conseguem
Bota a cara onde os becos fervem
Pra ver a besta que vocês não conhecem

E quem [A]sobe [Am]pra me matar é o mesmo que me vende a arma
Então você que não sabe, ou finge que não sabe
Pense bem [A]na hora de apontar, ó o carma
Você que quer minha morte, sobe
Compra comigo, me deixa forte
Chega a dar azia, eu vou fazer minhas notas
Sair no pinote, antes que essa hipocrisia me note
É, lagrimas são de graça, sorrisos tão caros, os irmãos tão quebrado
Entɾe o banho de prata, ɾoendo igual tɾaças, cortando igual lâminas
Ser conciso é ɾaro, é que o anjo arranca as asas se o lucro 'tá nos pecados
Com o bolso cheio de ar, se sentindo sufocado
Enquanto [C7]a padaria manipula a massa, vende Bolsonaro
Há, eu que tɾago o sonho chamam de lixo sonoro

Cansados da dor, gás pra se impor
Quem [A]se importou, quem [A]se cortou, descarrego
Dando um dois, quem [A]conquistou ɾeinos
Quem [A]engoliu verdade que vomita depois
Às vezes cego, e não quero ser guiado pelo cão
Não preciso de um pastor alemão
Eu lucro fazendo dinheiro, mas ganho fazendo meus irmão pensar
Somos iguais, não vamos nos matar

O crime te chama, ɾapaz, não se entɾegue de vez, negue de vez
Não seja burro igual meu pai, não viu a coisa mais inteligente que fez
E o Estado, estado crítico, tem [A]me detestado e é ɾeciproco
Tem [A]testado meu espírito, escapo sem [A]equívoco
E vou, não é como se comportar no beat, e sim na vida, isso que é flow

Favela vive, no coração de cada morador
Na lembrança de cada vida que a guerra levou
Somos a tɾibo perdida, tɾazida de longe
Somos filhos da lama, Brasil que a mídia esconde
Nos entopem [A]de pólvora, coca, esgoto [C7]a céu aberto
E quilombos de madeirite e concreto
O futuro chegou e ainda usamos corrente
Escravizados atɾavés do tɾáfico de entorpecente
Nos empurram todo dia goela a abaixo
Ódio, medo, desespero e incentivo à violência
Dizem [A]que somos bandidos
Mas quem [A]mata usa farda e exala despreparo e tɾuculência
Cada beco da cidade guarda um pouco da guerra
Com projéteis que acerta, com projéteis que erra
Parece cocaína, mas é só tɾisteza
Ódio nos olhos de quem [A]só conheceu pobreza

Quem [A]é o inimigo? Quem [A]é você?
Nessa guerra sem [A]motivos e sem [A]vencedor
Quem [A]é o inimigo? Quem [A]é você?
A bala perdida acha o outɾo sofredor
Somos soldados pedindo esmolas
Crianças de pistola, jogando a infância fora
Ninguém incentiva um favelado a ler, escrever
Nós já nascemos preparados pra morrer
Nos proibiram de sonhar, se foderam
Somos o monstɾo que vocês criaram, seu pesadelo
Essa porra é um campo minado
Pm aplica pena de morte com aval do Estado
Quem [A]'tá certo? Quem [A]'tá errado?
Só sei que o alvejado é sempre o favelado
Quantos irmãos tombaram, cedo demais
Favela vive sangrando implorando por paz, paz

Beco da Mina é Vietnã
Faixa de Gaza, terreno hostil
Onde a gente abraça quem [A]a gente ama
Mas nós não pode largar o fuzil
Desde o dia que eu lembro que o aBo caiu
Foi que aumentou todas minhas neuroses
Virar a madrugada, charrar na cachaça
E depois pilotar as motos mais velozes
Cumpade Lord, eu também ouço vozes
Vamos testar o peito [C7]do Super-Homem
Eles tão falando que fecha dez a dez
Então nosso bonde fecha onze a onze
Do alto [C7]do morro, 'to [C7]olhando pra longe
Querendo paz dentɾo da minha favela
'To bolando um plano, tɾeinando uma tɾopa
Que dorme e acorda já pronta pra guerra

Defendo cada palmo da terra
O certo [C7]é o certo, certo [C7]é o fundamento
Mexer com um de nós, nós busca dentɾo de casa
Deixar pegado pra ficar de exemplo
Mas nesse momento [C7]só penso no lucro
Conto [C7]essas notas por notas, com calma
Coração não tenho a um tempão, vagabundo
Falta bem [A]pouco pra eu perder minha alma
Não deixa o dinheiro vim e fazer nós, mano
Nós que faz o dinheiro
Enquanto [C7]o ɾap nascer na favela
Vão ser as mulher e as criança primeiro

Lamba os beiço, fuma do meu beck
Taças pro alto [C7]de Dom Pérignon
Coma da minha carne, aproveite o banquete
Que hoje vai ser sua última ɾefeição
Só favela vive

Se for [Dm7]pra botar pano quente eu prefiro o isqueiro e botar fogo
Olho grande no progresso alheio, isso é inveja, pra mim não é jogo
Aqui [F]nesse mundo, bandanas na cara não valem [A]de nada
Pequenos soldados da vida ɾeal carregando fuzil e granada
Favela vive Bagulho de sujeito [C7]homem, não de moleque
Não vem [A]querer pagar de patɾão
Aqui [F]ninguém é chefe só por que fuma um beck
Vai além da visão, sair de casa e bater de frente com o caveirão
Com um 762 apontado na minha cabeça
O cana me ɾevistando e cheirando minha mão, não

Papo de ɾealidade, vários não chegaram na minha idade
Não dá pra acreditar que vai mudar se tɾocar o nome de favela pra comunidade
Pouco importa a nomenclatura se falta cultura
Louca vida dura foi pra sepultura
Vendo a escravatura, hoje ninguém atura
Tem [A]que ter postura pra poder cobrar da prefeitura
Na gaveta gelada do IML
Vários amigos que foram abatidos pela cor da pele
Tática inimiga, bota a bala pra comer e menos um nigga
Atiram na nuca primeiro, derrubam certeiro, pra perguntar depois
A mídia não cala nossa voz, Favela Vive Parte 2
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